segunda-feira, 31 de março de 2008

Ec 3:11

"Por que existe algo ao invés de nada?”. Tendo como base esta questão e como ferramenta a teoria da relatividade geral, o padre polonês Michael Heller, formado em cosmologia e filosofia pela Universidade Católica de Lublin ganhou o prêmio Templeton deste ano pela formulação da chamada Teologia da ciência, teoria que segundo Heller, tem por objetivo anunciar a causa primordial do universo:

Vários processos no universo podem ser apresentados como uma sucessão de estados, sendo que o estado precedente é a causa do que o sucede. (...) Sempre há uma lei física que descreve como um estado consegue gerar outro estado. Leis físicas são expressas através de equações matemáticas, perguntar sobre a causa do universo é perguntar sobre a causa das leis matemáticas. Fazendo isso nós voltamos à questão de causa primordial: “Por que existe algo ao invés de nada?” Questionando isso não estamos apenas falando de uma causa como qualquer outra. Estamos nos perguntando sobre a raiz de todas as possíveis causas.


Suas últimas pesquisas têm se debruçado sobre o big bang e suas causas. Seguindo o raciocínio de Leibniz, ele afirma que existe um ser que carrega consigo a razão necessária à existência de todo ser contingente, se opondo à idéia de um universo que surge espontaneamente a partir do vazio, pois coisa alguma nasce sem as prévias condições para tal acontecimento. Visando acabar com essa contradição, cientistas construíram modelos mais “sofisticados” que sugerem um universo pré-big bang. OK, mas de qualquer forma esse universo teria um início, caso contrário ele seria eterno, pois se o universo não começou a existir, ele existiu por um período infinito. Problema resolvido?? Sim, se não levássemos em conta a termodinâmica e a lei da entropia, já que o infinito é tempo necessário para o universo entrar em equilíbrio e sofrer uma morte térmica. Portanto, a ciência ainda deixa campos em aberto, campos que teólogos têm preenchido há vários séculos.

Gênio? Não acho. Heller se tornou merecedor do prêmio não pelo desenvolvimento de uma “teoria de Deus”, nem tanto por ter sido um cientista extremamente profílico em meio à intensa repressão de um governo comunista (como a própria fundação Templeton apresentou), mas sim por ter demonstrado que a racionalidade está além dos limites do método científico. Ele mostrou que todo esse materialismo presente na ciência atual não é suficiente para a compreensão do universo. Enfim, ele demonstrou que dois elementos tão dissociados como ciência e religião têm finalidades tão similares: conhecer a criação e o Criador.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Mudando Paradigmas

“Em condições normais, o cientista pesquisador não é um inovador, mas um solucionador de problemas, e os problemas nos quais se concentra são exatamente aqueles que lhe parecem poder ser formulados e resolvidos dentro da tradição científica existente.”

Thomas S. Kuhn

Na visão de Thomas S. Kuhn, a ciência normal consiste, em grande parte, em operações de limpeza. Experimentalistas realizam versões modificadas de experiências já feitas muitas vezes antes. Os teóricos acrescentam um tijolo aqui, refazem uma cornija ali, num muro de teoria. Dificilmente poderia ser de outro modo. Se todos os cientistas tivessem que começar do começo, questionando idéias fundamentais, teriam dificuldades em atingir o nível de sofisticação técnica necessária à realização de um trabalho útil.

Na época de Benjamin Franklin, o punhado de cientistas que tentavam compreender a eletricidade podia escolher os seus princípios iniciais - na verdade tinham de escolhê-los. Esses cientistas podiam falar com os leigos quase que com a mesma facilidade com que conversavam entre si, porque ainda não tinham chegado à fase na qual podiam ter uma linguagem especializada, comum, para os fenômenos que estudavam. Em contraste, qualquer cientista do século XX dificilmente pode pretender um avanço no conhecimento de seu campo sem adotar primeiro uma terminologia e uma técnica matemática. Em troca disso, ele estará, inconscientemente, abrindo mão de uma grande margem de liberdade de questionar as bases de sua ciência.

A evolução das disciplinas científicas não se deve a uma lógica da história, pré-determinada e previsível. Na verdade, a uma verdadeira história na qual o novo é possível, assim como bifurcações imprevisíveis; o todo condicionado por um conjunto de condições sociais, econômicas, culturais, etc..., mas não inteiramente determinado por elas.

A ciência evolui no modelo de uma estrutura dissipativa,ou seja: o progresso dos conhecimentos específicos provoca o desmembramento e a fragmentação do conhecimento em geral, o que explicaria alguns imprevistos no decorrer de sua história. Tais fenômenos seriam causados por modificações microscópicas das condições iniciais(alguém aí pensou em teoria do Caos??). Ao nascer, é impossível dizer a forma que uma disciplina tornará mais tarde.

A partir de certo limiar, o crescimento pode produzir mais prejúizos do que bem-estar e os subprodutos tendem a tornar-se os produtos principais.Os produtos regressivos ou destrutivos de um progresso podem um dado momento, tornar-se os produtos principais e aniquilar o progresso.

Daí deduzimos que o excesso de informação obscurece o conhecimento, pois nenhuma teoria é necessariamente corresponde à realidade; uma teoria é uma construção da mente, uma construção lógico-matemática que permite responder a certas perguntas que fazemos ao mundo. Uma teoria se fundamenta em dados objetivos, mas uma teoria não é objetiva por si mesma.

Esse é simplesmente o destino de todas os paradigmas e teorias científicas existentes: ser questionada até estar diante de uma revolução científica. Quando a revolução ocorre, a ciência redefine seu objeto de estudo por meio de um novo paradigma.

A ciência não é um item descartável, contudo não pode fechar-se como se fosse auto-suficiente, completa e como se gerasse a si mesma.

“Eu sei que a maioria dos homens, inclusive os que se sentem à vontade com problemas da maior complexidade, raramente podem aceitar até mesmo a mais simples e óbvia verdade, se for de molde a obrigá-los a admitir a falsidade de conclusões que tiveram grande prazer em explicar aos colegas, que orgulhosamente ensinaram a outros e que adotaram, ponto por ponto, como parte de suas próprias vidas.”

Leo Tolstoi

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cada qual no seu lugar

Não digo que a ciência só trata daquilo que é mensurável, palpável e diretamente observável. Mas a ciência não se cinge ao que é físico no sentido tátil do termo. A ciência cinge-se simplesmente àquilo que é real. Não precisa de ter forma física, só precisa ter existência, desempenhar um papel na física, mas não precisa ter existência palpável.

A questão é que, se algo existe, então… existe. E se existe, tem de ter alguma forma de se manifestar. E é aí que os cientistas “pecam”(oportuno esse termo não?!).Pois já que nem todas as coisas precisam se manifestar de forma tátil, elas tem de se revelar ao mundo de alguma forma (nem que indireta) e é essa forma que a ciência presunçosamente quer descobrir.

Certo. A grande maioria dos cientistas tem a convicção que qualquer “fenômeno” pode ser descrito por funções matemáticas. Eles acham que se Deus existe, então tem de existir de alguma forma. Pode ser imaterial, pode ser na forma uma corrente eletromagnética, pode ser como uma aura. Mas não se pode furtar à ciência, porque a ciência debruça-se exatamente sobre aquilo que existe.

Porém, a existência divina não é subordinada à lógica. A resposta desta questão foge ao alcance da ciência, pois na relação com o transcendente, a razão é um complemento e não a essência.

Mas aí qualquer cético diria:"Agora esse fundamentalista apela para o reducionismo!! É fácil demais afirmar que a existência de Deus não pode ser verificada, assim como sua não existência". Então eu digo:Boa conclusão. A função da ciência é compreender o mundo à nossa volta, é um método cujo objetivo é bem claro: o conhecimento. Só que nem todo conhecimento é acessível a ela. Afinal, alguém tenta assistir uma fita VHS através de um DVD player?! Alguns até tentam fazer essa conversão de formatos(vide design inteligente), mas a qualidade nunca é satisfatória.

Resumindo: A ciência é(parcialmente)competente para explicar fatos do mundo natural, mas não para explicar o arquiteto de tal mundo, já que este não o contém.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Entrevista - Cesar Lattes

— No princípio, Deus criou os céus e a terra.
— Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo...
— A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
— Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
— Deus disse: ‘Faça-se a luz’.
— Ele estava no escuro...
— E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ a luz e às trevas, ‘noite’. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
— Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?


Foi assim que começou o diálogo entre a repórter Tatiana Fávaro do Jornal da Unicamp e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp, na manhã de 19 de julho. O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista.


Aposentado desde 1986, Lattes diz aceitar a Bíblia como a origem da matéria. “Sou judeu, católico apostólico romano, stalinista, cristão, ortodoxo, animista e maometano”, brinca, ao ser questionado sobre religião.


Jornal da Unicamp – O que o senhor acredita ser aceitável para explicar a origem do Universo?
Cesar Lattes
A realidade objetiva, a realidade no duro, é a resultante da superposição de todas as vontades: animais, vegetais, minerais e objetos manufaturados. Tudo tem alma. Até esse fósforo que acabei de acender. Vamos falar de Universo: cada ser é um Universo. Dizem que existem infinitos Universos. Eu não consigo conceber o conceito de infinito. Então, da origem de qual deles vamos falar? Das galáxias? Olha, eu acredito nesse livro aqui (bate na capa da Bíblia). Professo acreditar no que o cientista fala – porque é assim que ganho dinheiro como professor –, mas eu não acredito, acredito na Bíblia. As galáxias, dizem eles, está na moda, e o Big Bang, o traque enorme há 18 bilhões de anos, originou o Universo. Mas apareceu onde? No espaço e no tempo. Deus criou a matéria. Então, a origem do Universo, de acordo com os bobocas dos astrônomos, foi há 18 bilhões de anos. Só que o Sol existe apenas há 5 bilhões de anos... Eles dizem também que o Universo está em expansão. É o que dizem.


JU – E o senhor, o que diz?
Lattes
(Bate cinco, seis vezes sobre a Bíblia)


JU – Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão...
Lattes
Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso, porque eu não os levo a sério.


Este é um pequeno trecho da entrevista realizada pelo Jornal da Unicamp com o físico brasileiro César Lattes(leia a entrevista completa no blog da jornalista: www.tatianafavaro.kit.net/jornaldaunicamp_lattes.htm).


César Lattes foi um dos físicos que trabalharam na grande descoberta experimental, de uma nova partícula atômica, o méson pi. Tal descoberta rendeu um prêmio Nobel à Cecil Frank Powell, líder do grupo de pesquisa . Lattes figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Enciclopédia Britânica.


César Lattes é um dos mais importantes físicos brasileiros, portanto decidi que minha 1° postagem seria sobre ele. Na entrevista acima, Lattes deixa claro a sua opinião a respeito da origem do universo, afirmando que o Gênesis é o verdadeiro relato da criação universal.


Para Lattes, "o estudo só é válido se houver observação. Só teoria é conversa". Ele diz , por exemplo, que a teoria do Big Bang fala de uma explosão criadora há 18 bilhões de anos, mas o sol tem "apenas" 5 bilhões de anos. Então de onde teria surgido a matéria? "Deus criou. Eu não brigo com os astrônomos por isso porque eu não os levo a sério", disse o físico. Para ele, a explicação para o surgimento do universo está no primeiro livro da Bíblia.


Ele também critica o constante uso da intuição na física, a maneira como os cientistas teorizam de forma indiscriminada sem se importar com qualquer tipo de empirismo ou comprovação. Afinal, isso também não seria um tipo de fé?? Ou então ocorre o contrário, tais "pesquisadores da verdade" apelam para o dogmatismo e recuam diante do abismo que se encontra por baixo da superfície do conhecimento e se agarram a seus paradigmas e modelos favoritos tentando domesticar a "voz da ciência".

Por favor, tentem parecer menos religiosos...