quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Mudando Paradigmas

“Em condições normais, o cientista pesquisador não é um inovador, mas um solucionador de problemas, e os problemas nos quais se concentra são exatamente aqueles que lhe parecem poder ser formulados e resolvidos dentro da tradição científica existente.”

Thomas S. Kuhn

Na visão de Thomas S. Kuhn, a ciência normal consiste, em grande parte, em operações de limpeza. Experimentalistas realizam versões modificadas de experiências já feitas muitas vezes antes. Os teóricos acrescentam um tijolo aqui, refazem uma cornija ali, num muro de teoria. Dificilmente poderia ser de outro modo. Se todos os cientistas tivessem que começar do começo, questionando idéias fundamentais, teriam dificuldades em atingir o nível de sofisticação técnica necessária à realização de um trabalho útil.

Na época de Benjamin Franklin, o punhado de cientistas que tentavam compreender a eletricidade podia escolher os seus princípios iniciais - na verdade tinham de escolhê-los. Esses cientistas podiam falar com os leigos quase que com a mesma facilidade com que conversavam entre si, porque ainda não tinham chegado à fase na qual podiam ter uma linguagem especializada, comum, para os fenômenos que estudavam. Em contraste, qualquer cientista do século XX dificilmente pode pretender um avanço no conhecimento de seu campo sem adotar primeiro uma terminologia e uma técnica matemática. Em troca disso, ele estará, inconscientemente, abrindo mão de uma grande margem de liberdade de questionar as bases de sua ciência.

A evolução das disciplinas científicas não se deve a uma lógica da história, pré-determinada e previsível. Na verdade, a uma verdadeira história na qual o novo é possível, assim como bifurcações imprevisíveis; o todo condicionado por um conjunto de condições sociais, econômicas, culturais, etc..., mas não inteiramente determinado por elas.

A ciência evolui no modelo de uma estrutura dissipativa,ou seja: o progresso dos conhecimentos específicos provoca o desmembramento e a fragmentação do conhecimento em geral, o que explicaria alguns imprevistos no decorrer de sua história. Tais fenômenos seriam causados por modificações microscópicas das condições iniciais(alguém aí pensou em teoria do Caos??). Ao nascer, é impossível dizer a forma que uma disciplina tornará mais tarde.

A partir de certo limiar, o crescimento pode produzir mais prejúizos do que bem-estar e os subprodutos tendem a tornar-se os produtos principais.Os produtos regressivos ou destrutivos de um progresso podem um dado momento, tornar-se os produtos principais e aniquilar o progresso.

Daí deduzimos que o excesso de informação obscurece o conhecimento, pois nenhuma teoria é necessariamente corresponde à realidade; uma teoria é uma construção da mente, uma construção lógico-matemática que permite responder a certas perguntas que fazemos ao mundo. Uma teoria se fundamenta em dados objetivos, mas uma teoria não é objetiva por si mesma.

Esse é simplesmente o destino de todas os paradigmas e teorias científicas existentes: ser questionada até estar diante de uma revolução científica. Quando a revolução ocorre, a ciência redefine seu objeto de estudo por meio de um novo paradigma.

A ciência não é um item descartável, contudo não pode fechar-se como se fosse auto-suficiente, completa e como se gerasse a si mesma.

“Eu sei que a maioria dos homens, inclusive os que se sentem à vontade com problemas da maior complexidade, raramente podem aceitar até mesmo a mais simples e óbvia verdade, se for de molde a obrigá-los a admitir a falsidade de conclusões que tiveram grande prazer em explicar aos colegas, que orgulhosamente ensinaram a outros e que adotaram, ponto por ponto, como parte de suas próprias vidas.”

Leo Tolstoi

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cada qual no seu lugar

Não digo que a ciência só trata daquilo que é mensurável, palpável e diretamente observável. Mas a ciência não se cinge ao que é físico no sentido tátil do termo. A ciência cinge-se simplesmente àquilo que é real. Não precisa de ter forma física, só precisa ter existência, desempenhar um papel na física, mas não precisa ter existência palpável.

A questão é que, se algo existe, então… existe. E se existe, tem de ter alguma forma de se manifestar. E é aí que os cientistas “pecam”(oportuno esse termo não?!).Pois já que nem todas as coisas precisam se manifestar de forma tátil, elas tem de se revelar ao mundo de alguma forma (nem que indireta) e é essa forma que a ciência presunçosamente quer descobrir.

Certo. A grande maioria dos cientistas tem a convicção que qualquer “fenômeno” pode ser descrito por funções matemáticas. Eles acham que se Deus existe, então tem de existir de alguma forma. Pode ser imaterial, pode ser na forma uma corrente eletromagnética, pode ser como uma aura. Mas não se pode furtar à ciência, porque a ciência debruça-se exatamente sobre aquilo que existe.

Porém, a existência divina não é subordinada à lógica. A resposta desta questão foge ao alcance da ciência, pois na relação com o transcendente, a razão é um complemento e não a essência.

Mas aí qualquer cético diria:"Agora esse fundamentalista apela para o reducionismo!! É fácil demais afirmar que a existência de Deus não pode ser verificada, assim como sua não existência". Então eu digo:Boa conclusão. A função da ciência é compreender o mundo à nossa volta, é um método cujo objetivo é bem claro: o conhecimento. Só que nem todo conhecimento é acessível a ela. Afinal, alguém tenta assistir uma fita VHS através de um DVD player?! Alguns até tentam fazer essa conversão de formatos(vide design inteligente), mas a qualidade nunca é satisfatória.

Resumindo: A ciência é(parcialmente)competente para explicar fatos do mundo natural, mas não para explicar o arquiteto de tal mundo, já que este não o contém.